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Ciao! Sabe aquele borgo de filmes medievais, de carroças, cavalos, de bruxas e tudo mais? Então, esse borgo poderia muito bem ser Ricetto di Candelo, que fica na província de Biella, na região de Piemonte, cerca 1h30 de Milão. Nós passamos uma tarde conhecendo esse borgo medieval que é um dos mais bem conservados da Europa e, de fato, caminhando por suas ruas estreitas, chamadas de “rue”, e admirando a bela vista já do lado de fora dos muros, você entenderá porque esse borgo entrou para o “Clube dos Borgos mais bonitas da Itália”.
E aí, você já ouviu falar dele? Não? Bem, então é hora de descobrir! Vamos lá!

Mas o que é um Ricetto?

O Ricetto (que significa “refúgio”) é uma estrutura construída dentro de uma cidade durante a Idade Média (para sermos exatos entre os séculos XIII e XIV) e seu objetivo era proteger bens de primeira necessidade, como trigo e vinho (que ainda são de primeira necessidade na Itália, nada mudou rs). Essa estrutura era essencial, especialmente no caso de ataques inimigos, pois ela garantia que tanto a população quanto os estoques de alimentos permanecessem seguros. Hoje em Ricetto, é possível admirar este antigo borgo medieval, que tem sua primeira citação no ano de 988 d.C. e seus fortes muros marcam quase completamente todo o perímetro, com exceção do lado sul, onde o Palazzo Comunale foi erguido em 1819. Ricetto representa um tesouro de preservação medieval, capaz de fazer com que os visitantes desfrutem dos costumes e tradições do passado.

Torre de entradaOlha que lindo esse lugar!

Começamos a visita atravessando sua torre de entrada. Ficamos imaginando quantas pessoas e animais cruzaram aquele lugar com cestas e malas para colocá-los em segurança e manter suprimentos nos momentos mais difíceis. A murada de Ricetto são paredes fortes e poderosas que cercaram e protegeram a estrutura por séculos e ainda são sólidas e majestosas, apesar da passagem do tempo. Há 4 torres redondas nos cantos da murada que circulam Ricetto e que tinham o objetivo de defender a população dos inimigos, enquanto existe apenas uma entrada, através da maciça porta da torre. Esta entrada era fechada com duas pontes levadiças: uma para animais e vagões, a outra para pessoas, hoje ela é apenas um piso que interliga a nova cidade que cresceu em volta da medieval. Uma pena, pois imagine que coisa linda essa porta ainda com as pontes levadiças? Tipo aquelas com o lago em volta, de filme medieval mesmo.

Dentro de Ricetto e sua murada, existem 200 pequenas estruturas, chamadas “células” (as casas digamos), todas estritamente em pedra e que continham os alimentos. A maior parte das células consistia em casas de dois andares: no primeiro, o vinho era depositado, enquanto no segundo andar ficava o trigo e outros cereais, isso para mantê-los secos. Além disso, para manter as condições de temperatura e umidade, os dois andares não estavam diretamente conectados entre si. Para entrar no térreo, podia-se passar por um dos poderosos portões de madeira fechados por um ferrolho de ferro (ainda hoje visível) enquanto para acessar o segundo andar era necessário passar por uma varanda externa. Esses portões são um show a parte, eles são bem pequenininhos para evitar a entrada de ar e danificar os mantimentos, assim tudo fica parecendo de conto de fadas…parece que a Branca de Neve vai sair dali de dentro a qualquer momento (lindo!). E hoje, algumas dessas células foram transformadas em pequenas lojas e estúdios de artistas, onde são criadas oficinas que ilustram as obras do passado. Um encanto.

Uma dessas células inclusive é dedicada à viticultura e é parte integrante de um museu composto de objetos, técnicas, estruturas, materiais. Todo o patrimônio cultural e os laços criados pela comunidade ao longo dos séculos são perceptíveis. Lojas como essa da imagem que vendem o arroz cultivado nas redondezas (passamos pela plantação no caminho de Milão a Ricetto), doces artesanais, cerejas recém colhidas, biscoitos, ainda existe uma Taverna ali! Além de músicos que ainda tocam instrumentos medievais no meio das vielas. Escultores que fazem objetos entalhados e nos fizeram voltar no tempo, um tempo que nunca conhecemos mas mesmo assim sentimos saudade. Um tempo em que a vida era mais simples.

Curiosidades

Conversando com a dona de uma das lojas ficamos sabendo algumas curiosidades. Por exemplo, não se sabe com certeza em que ano o Ricetto di Candelo foi construído, o primeiro escrito que cita o borgo, como dissemos acima, foi no ano de 988 d.C., mas o ano de construção em si não se sabe. Obviamente, o borgo foi modificado pelos anos e em algumas células foram construídas o segundo andar (algumas mantém somente o primeiro andar), e o aspecto atual que podemos apreciar é quase o que era final do século XV, período em que o senhor feudal Sebastiano Ferrero reivindicou o propriedade, construindo ali sua própria habitação, atualmente conhecida como a Torre del Principe, que é o edifício mais alto de Ricetto di Candelo.

Uma informação que nos impressionou também é a que diz respeito ao estilo de vida e aos costumes das pessoas no período medieval. Hábitos que para nós são do dia a dia, como por exemplo tomar banho, antes não eram assim normais: os plebeus apenas mudavam as mangas das roupas quando queriam ficar “limpos”. Ou ainda o fato de que, como a pobreza era a condição predominante na época, muitos homens usavam uma única túnica por cima das calças e, no caso de não terem conseguido pagar seus impostos, eram forçados a vender essa túnica e ficar apenas com suas ciroulas. 

Bom, curiosidades a parte, Ricetto di Candelo é um dos poucos borgos dessa tipologia no mundo que continua preservado. O mérito está com certeza ligado ao fato de que o Município e a população tentam constantemente aprimorar esse patrimônio histórico, combinando um lugar antigo com eventos modernos. Na verdade, Ricetto é palco de um rico calendário de eventos que vão da gastronomia à literatura, passando por shows e festivais de música, inclusive no Natal eles o transformam na Vila do Papai Noel (queremos voltar em dezembro pra ver isso de perto!). Uma maneira de fazer a população e os turistas viverem em contato com essa fatia do território. Que baita visita! Visitem! Até mais! Bacio.

Ricetto di Candelo
Piazza Castello 29 – 13878 Candelo (Biella – Piemonte)
www.comune.candelo.bi.itwww.candeloeventi.it
Entrada gratuita


Aproveite para ler nosso post sobre a cidade fantasma de Consonno!

Leia também sobre o Orrido di Bellano, uma garganta natural formada durante 15 milhões de anos!


Ciao a tutti! Era madrugada, casa de uns amigos milaneses e o tema da conversa: coisas macabras ou de gosto particular. Assim como nós, eles adoram essas coisas, contamos de nossa visita ao Castelo do Drácula na Romênia (leia aqui a matéria sobre ele), sobre as Catacumbas de Viena (matéria aqui). Eles nos contam outras e nos perguntam se já fomos a cidade fantasma de Consonno. Pausa. Cidade fantasma? Nunca fomos a nenhuma e era isso que faltava! E o melhor, fica a 1 hora de Milão, pertinho!

Essa conversa foi no meio da semana e no sábado já estávamos nós lá, na estrada a caminho da cidade fantasma, que fica na província de Lecco, pouco antes dos Pré-Alpes Lombardos, em uma aldeia do município de Olginate. Esta cidade nem sempre foi abandonada, primeiro foi um borgo medieval e depois uma cidade de brinquedos iluminada inclusive de dia, como uma Las Vegas italiana, criada por um milanês amante do luxo (ou do brega, depende do ponto de vista), Mario Bagno, e que foi palco de sua megalomania.

Pesquisando mais a fundo, descobrimos que tudo começou no final dos anos 50, quando o boom econômico fez com que até as ideias mais imprudentes parecessem possíveis. Porque esse era o projeto do Conde Bagno: um empreendimento imprudente, fora de qualquer esquema, que atraía a atenção de toda mídia nacional e internacional. Resumindo, seu projeto foi dividido em duas fases.

O primeiro: requisição e demolição de casas e estábulos camponeses. A segunda: a construção de uma cidade suntuosa. Para melhorar o panorama da área, o conde não hesitou nem mesmo em dar uma ordem para “diminuir” com dinamite um morro vizinho segundo ele, alto demais.

Em 1961 começa a construção da cidade dos brinquedos. O lugar para ele era ideal, próximo a Milão. E em poucos anos já existiam hotéis e restaurantes, com o aspecto de várias culturas: um templo chinês, um castelo medieval, um hotel de luxo com uma torre de mesquita, o qual hospedava visitantes e lojas. Sua intenção era ainda construir um campo de futebol, um de golfe, um de basquete, uma pista de patinação, uma Luna Park e um zoológico. 

“Em Consonno o céu é mais azul”, eram os cartazes de boas-vindas daqueles que cruzaram a porta da frente, com dois guerreiros de marionetes medievais em posição de guarda.

Logo o lugar se tornou o refúgio predileto da burguesia milanesa, a Disneylândia lombarda. Nossos amigos milaneses dizem que seus pais já haviam comentado que lembravam das propagandas, e contaram também que com o passar dos anos, o interesse no lugar que era novidade, diminui. Um desmoronamento na única estrada de acesso a Consonno em 1976 termina de vez com o sonho de Mario, que tenta arrumar a estrada, mas uma briga sua com a prefeitura faz a estrada ser reconstruída integralmente somente em 2007.

Com o ocorrido, a cidade entra em seu declínio e abandono, lentamente se tornando uma verdadeira cidade fantasma, desabitada e também um destino para festas raves ferozes (a última em 2003 praticamente destruiu tudo o que restava da cidade). Já que Mario Bagno, seu criador morre em 1995 aos 94 anos. 

“Em Consonno é sempre festa” diziam as propagandas em toda parte.

A subida até Consonno é uma estrada íngreme e curta, cheia de curvas, porém, sua vista é de tirar o fôlego com casinhas que parecem feitas de biscoito. Em uma das curvas tinha um pastor e suas ovelhas, que coisa linda! Paramos o carro e junto com um outro grupo tentamos (sem nenhum êxito) alimentar as ovelhinhas com grama (a vontade real era sair rolando com as ovelhas no chão, abraçando todas elas, mas…). Todo mundo ali é extremamente educado e gentil, com suas vendinhas de produtos frescos produzidos no local (como a Azienda Agricola Biffi Francesca). E todos nós com aquela cara de gente da cidade que nunca viu uma vaca pessoalmente. Enfim, além de visitar a cidade fantasma, tem toda essa parte de agroturismo, que é sempre legal.

E chegamos na cidade fantasma. Um lugar surreal que do borgo original restou apenas a igreja, a casa paroquial e um pequeno cemitério. Todo o resto foi demolido, e dos 281 habitantes da antiga cidade hoje restam apenas 4. Uma associação de antigos moradores e seus filhos tenta manter a identidade do antigo borgo e não são permitidas festas no lugar. Consonno não é mais sempre festa…

Nós chegamos cedo e fomos os únicos visitantes por pelo menos meia hora e cada passo nosso era o único som em meio aquela linda paisagem natural das montanhas em contrate com paredes descascadas, infiltrações, banheiras novas abandonadas, janelas quebradas, pó, mato invadindo a construção, persianas caídas e muito silêncio. A sensação que se tem andando pelos apartamentos do antigo hotel, pelo restaurante ou mesmo pela praça é de muita estranheza. Certamente todos os grafites que estão lá nas paredes contribuem para este sentimento.

Cada detalhe conta uma história, e cada visitante anda lentamente, admirado. E mesmo que fossemos os únicos visitantes inicialmente, depois chegou bastante gente, crianças, adultos, casais, o lugar é bem visitado sim. Um bar funciona algumas horas nos finais de semana, como uma forma de vigiar o local que hoje tem muitos curiosos, fotógrafos com suas câmeras e drones. A entrada a cidade fantasma é permitida apenas nos finais de semana durante o dia.

Mesmo com toda a estranheza, adoramos conhecer Consonno e se tiver oportunidade, conheça também. Até a próxima! Bacio.

Ciao! Era sábado e depois de uma semana atarefada e sem tempo de planejar nada e com uma baita vontade de fazer um passeio rápido e diferente para relaxar um pouco, escolhemos descobrir a cidade de Bellano, que se mostrou a escolha perfeita! Saindo de Milão de carro, fizemos um percurso de 1h20 bem tranquilo e bonito. Pagamos 4,40 euros totais de ida e volta no pedágio, baratinho. E se você não está de carro, a Estação Central de Milão tem trens a Bellano-Tartavalle Terme com o custo de 6,70 euros na média, o trecho. 

Bellano fica na província de Lecco (ainda na Lombardia), nos pés das montanhas e na beirada do Lago de Como (o Lago de Como não é só a cidade de Como hein) e nossa primeira parada foi ao Orrido di Bellano, que é uma garganta natural, formada durante 15 milhões de anos (resultado do desgelo de uma geleira) e da água do riacho Pioverna, que por erosão, escavou uma profunda garganta entre as cidades de Tracena, Valsassina e Bellano. Seu ingresso custa 4 euros adulto e 3,50 para crianças até 12 anos e estava tudo super tranquilo, não tinha quase ninguém (tivemos sorte, mas saiba que as vezes pode ter uma fila sim). Bom, a sorte que não tivemos foi que a água estava um pouco baixa, com mais vegetação e pedras que água, o que não muda muito a beleza de Orrido, que é sempre lindo. 

Em Orrido a possibilidade de percorrer um breve percurso dentro da garganta utilizando passarelas fixas na rocha é uma experiência única. Sua água espumante é de um verde fantástico com lindas cascatas e uma grande vegetação, as grutas escavadas nas rochas constituem um espetáculo muito particular. A força dessas águas, nos séculos passados, eram usadas pelas fábricas locais para a mineração. Com a chegada da energia elétrica, foram instalados condutores, ainda hoje de uso da montanha, servindo-se ainda da potência da água que alimenta duas centrais hidroelétricas. Paramos o carro na rua mesmo, sem custo na primeira hora, bem em frente a Parrocchia di Bellano, que fica ao lado da entrada do Orrido e como o passeio dura mais ou menos esse tempo, foi perfeito e econômico. E saindo do Orrido fomos conhecer a cidade, pagando assim as horas a mais de estacionamento, claro. 

E que cidade legal! Com alguns restaurantes, cafés, sorveterias e bares na margem, vem todo aquele clima maravilhoso de praia e de interior da Itália. A primavera apenas começou e é tão bom esquecer um pouco do inverno. Vimos algumas pessoas fazendo piquenique, e achamos uma boa ideia, então corremos para o mercado ali próximo, compramos várias comidinhas e fomos para a mini praia de pedrinhas que tem ali e passamos mais algumas horas. É uma ótima opção para um passeio com a família ou um passeio romântico. Uma verdadeira vista de cartão postal, com montanhas ao fundo, água fresquinha limpa e azul. Voltamos renovados. Tudo que nós precisávamos no fim de semana!

Até a próxima! Bacio.